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A maternidade e o papel da empresa e líderes nessa jornada.

Mãe da Catarina, Natalia Ubilla conta sua jornada como mãe e Head HRBP no iFood Benefícios, e como a maternidade pode ir além da licença.

Por Natalia Ubilla

Como seria ter uma sociedade que comportasse a escolha de ser mãe e não abdicar da carreira? Essa opção ainda é marcada por desafios que as empresas estão aprendendo a lidar, mas ainda temos obstáculos nesse tema.

Será que todos nós realmente compreendemos como a maternidade muda a vida da profissional no ambiente de trabalho? Aqui vão alguns pontos na minha visão enquanto mãe e líder, e dicas para você colocar pequenas ações em prática na sua empresa.

A jornada da maternidade e o papel da liderança

Para as empresas entenderem de que forma contribuir com essa nova mãe além da licença maternidade, precisamos pensar na jornada como um todo. A empresa possui um papel estruturante de garantir processos e protocolos, mas esse papel também precisa ser dividido entre os líderes.

Muitas empresas adotaram a prática da licença maternidade estendida, inclusive para os homens. No iFood, por exemplo, a licença maternidade é de 180 dias, e a licença paternidade chega a 60 dias. Enquanto empresa, precisamos preparar as lideranças para que elas estejam aptas a lidar com esse momento na vida da mãe. Abaixo, algumas ideias de como fazer isso:

Ambiente Seguro

Mesmo sendo uma escolha pessoal, é importante haver abertura entre o líder e a liderada para falar sobre o desejo da parentalidade e o processo quando isso acontece independentemente da via escolhida. Tratar enquanto empresa e líderes esse tema com naturalidade, mostrando exemplos de profissionais que passaram por isso, e deixando o diálogo aberto para falar sobre, cria um ambiente seguro para a mulher se sentir confortável em avançar com esse projeto pessoal. 

Uma liderança preparada para acompanhar esse momento é essencial para o bem-estar e bom aproveitamento dessa fase, além de ajudar no planejamento do período de licença parental.

Transparência

A maternidade pode trazer muita insegurança e novos desafios - tanto no aspecto pessoal quanto profissional.
Portanto, o diálogo entre líder e liderada precisa ser transparente antes, durante a licença e no retorno ao trabalho. 
Retornar de licença após seis meses faz com que essa mãe encontre mudanças, tanto na sua rotina quanto nos processos da empresa, em alguns casos.

As organizações precisam ter um plano para lidar com esse momento de ausência da profissional e também para garantir que, quando ela retornar, toda a estrutura já foi reorganizada e há clareza de como será este retorno. Entender o melhor formato e expectativa em relação a comunicação é importante para minimizar surpresas, oferecer visibilidade e conforto nessa nova etapa é a chave.

Já convivi com mulheres que quiseram falar com seus líderes uma vez por mês durante a licença, para acompanhar as mudanças na organização, e já vi casos onde a mulher escolhe ficar toda a licença sem contato com a companhia.

Enquanto organização, não podemos esperar que essa colaboradora volte da mesma forma que antes. Tudo mudou. Eu, como mãe, sei que a maternidade muda a mulher desde o primeiro dia e muitas vezes até para melhor. É necessário que as empresas enxerguem a complexidade e benefícios disso para tornar a gravidez e o retorno mais saudável para todos. 

Para fazer acontecer na sua empresa

Capacitar as lideranças a apoiarem esse processo faz toda a diferença! E é possível realizar ações práticas e sem custo.

Um trabalho importante do Business Partner (BP) é acompanhar a colaboradora e o líder. Ele não é responsável por colocar em prática, mas estar próximo como parceiro de negócio é importante para garantir um processo mais fluido. 

Nós fazemos isso no iFood quando, no retorno da licença maternidade, a mãe conta com um buddy (parceiro) para acompanhá-la e auxiliá-la no primeiro mês.

Enquanto RH, dedique um tempo para ir além do dia a dia e olhar a jornada da maternidade como um todo. Algumas outras ações podem ser realizadas de forma prática e sem custo: 

  • Deixe sempre o espaço aberto para apoiar quem deseja engravidar, sem ser invasivo. Assim, o time se sente em um ambiente seguro se quiser compartilhar seu processo pessoal;
  • Ao ter uma colaboradora gestante, pense em conversas individualizadas para entender como essa mãe se sente, como a empresa pode auxiliar ou até mesmo alterar alguma dinâmica para facilitar a rotina. Quer um exemplo prático? Grávidas sentem muito sono! Avalie a possibilidade de estender o horário de almoço para que essas mulheres em gestação descansem um pouco mais ou ofereça que ela trabalhe mais de casa. São coisas simples que podem ser adotadas para deixar esse momento mais confortável;
  • Os primeiros dias depois do nascimento são muito intensos! Crie um processo fácil para incluir o bebê no benefício de plano de saúde, apoiando o casal ao receber a certidão nas primeiras semanas de nascimento;
  • Quando essa mãe retornar, pense se faz sentido para ela trabalhar 8h por dia logo no início, por exemplo. Que tal ajustar esse horário ou reservar algumas pausas de 30 minutos ao longo do dia para que essa mãe amamente? Muitas retornam da licença ainda amamentando, ou seja, a licença não termina quando ela acaba.

Em resumo: é pensar na jornada dessa profissional desde a gravidez. Veja quem são as mães que voltaram de licença maternidade e quem tem interesse em engravidar. Una essas mulheres em um focus group para construir as melhores práticas para sua empresa.

Práticas do iFood: O que fazemos para apoiar essa trajetória?

No iFood temos o iFamily, um programa opcional de suporte que apoia mães e pais desde a descoberta da gravidez até seis meses após o retorno da licença. 

Nesse programa, os futuros papais recebem a nossa Cartilha da Gestação que conta com uma trilha de acompanhamento desse momento. Esse programa envolve saúde, bem-estar e atendimento psicológico.

Para as mulheres que saem da licença maternidade, oferecemos um programa de consultoria e maternidade na carreira, com seis encontros, sendo dois após o retorno. A liderança responsável por essa mãe também tem direito a essa consultoria. Afinal, como esperar que um líder que não tem filhos se coloque no lugar de uma mãe? É por isso que precisamos apoiar os dois lados para tornar essa experiência ainda melhor.

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Competências desenvolvidas por mães

Segundo o estudo “Carreira e Filhos Podem Caminhar Juntos”, realizado pela consultoria Filhos no Currículo em parceria com o Movimento Mulher 360, 98% dos pais entrevistados disseram ter desenvolvido habilidades profissionais a partir da relação com filhos.

Digo que isso é real e posso listar algumas habilidades que adquiri, como a eficiência. Quando você tem uma criança, você precisa organizar a sua vida em torno da rotina dela. Não é mais sobre apenas o seu horário, você precisa conciliar múltiplos compromissos. Para fazer dar certo é preciso muita organização.

pragmatismo também passou a fazer parte da minha vida. Me deparei com alguns sustos na maternidade, então poucos problemas se tornam tão grandes depois deles. Você se intimida menos com as questões que precisa resolver.

Por fim, a empatia. Quando alguma mulher do meu time volta da licença maternidade, eu tomo cuidado para fazer com que essa volta seja mais tranquila para ela. Você passa a ficar ainda mais sensível com as dores do mundo e de outras pessoas. Me tornei mais atenta a isso.

A culpa materna 

Meu conselho, enquanto mãe é, cuide da sua saúde mental. A maternidade vem recheada de culpas, e isso pode extrapolar para o ambiente profissional.

Quando retornei de licença maternidade entendi que era menos sobre ser mãe e ter um filho para criar, e mais sobre a potência que temos para fazer as escolhas corretas. Hoje, divido meu tempo entre minha filha e meu trabalho. Por isso, preciso que esse tempo trabalhando seja mais bem aproveitado para mim e para a empresa, visto que nesse período estou deixando de passar tempo com alguém muito valioso: ela. Entender isso me fez uma profissional muito melhor.

Não é errado priorizar a sua carreira e se orgulhar dela. Isso pode servir de exemplo para seus filhos.

Estar focada no trabalho não significa que você não ama seus filhos ou que é uma mãe ou pai ruim. Significa que, naquele momento, você precisa dedicar um pouco mais de energia para isso. É importante enxergar isso com bons olhos para não cair na famosa culpa da maternidade e desistir da carreira ao pensar que não é boa profissional e nem boa mãe. 

Tenha clareza do que você quer, de como organizar as coisas e entenda que um período não significa o todo na maternidade. Não é fácil, mas vale a pena! Amo ser mãe e amo ser a profissional que sou.

 

Natalia Ubilla é Head HBRP no iFood Benefícios, ingressando no iFood em 2022. 
Antes, atuou em companhias como GE, Johnson & Johnson, entre outras.

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Gente e gestão

Natalia Ubilla

7 de Maio de 2024

Leitura de 7 min